terça-feira, 8 de julho de 2008

Editorial


Muitos são os acontecimentos e as curiosidades do marcante ano de 1968, o qual teve repercussões nos anos procedentes. Dentre elas, podem ser citados manifestações políticas, nacionais e internacionais; culturais, referentes á moda, música, estilos de vida; sociais, tais como novas filosofias de vida; esportivas, tecnológicas, médicas, etc.
Das muitas agitações políticas, algumas que ganharam grande destaque foi, no cenário nacional, o AI5(Ato Institucional nº5), assinado em 13 de dezembro de 1968, o qual foi um instrumento utilizado pelos militares para aumentar os poderes do presidente e permitir a repressão e da perseguição das oposições. Já no cenário internacional, um dos acontecimentos mais marcantes foi a Primavera de Praga, tendo como palco a Tchecoslováquia, foi liderada por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco e tinha por objetivo promover grandes mudanças na estrutura política, econômica e social do país.
No aspecto cultural, houve mudanças radicais, no cenário brasileiro, surgiu o Tropicalismo, também conhecido como Tropicália. Tal movimento nasceu sob influência das correntes da vanguarda artística e da cultura nacionais e estrangeiras (como o pop-rock e a poesia concreta) e mesclou manifestações tradicionais da cultura do Brasil a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que ecoaram pela sociedade no final da década de 1960. Apresentou-se, na música, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé, entretanto, teve manifestações nas artes plásticas, no cinema, influenciando o cinema novo de Glauber Rocha e no teatro, sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martines Corrêa.
No que se diz respeito à moda, ocorreu uma revolução a partir dos movimentos hippies. Os padrões da época foram quebrados, dando lugar ao despojamento, informalidade e recortes mais arrojados. A moda praia também se distanciou dos antigos modelos, sendo cada vez menores, mais chamativos e com designs ousados.
As olimpíadas de 1968, sediadas na Cidade do México, entre os dias 12 a 27 de outubro, foram o marco no setor esportivo desse mesmo ano. Nela participaram 112 países, 4750 homens e 780 mulheres divididos entre 20 modalidades. E, apesar de o Brasil ter enviado vários atletas, trouxemos para casa apenas três medalhas, uma de prata, no atletismo com o salto triplo e duas de bronze, no boxe peso mosca e uma na vela na modalidade Flying Dutchamn.
Na área de saúde, o ano de 1968 foi um marco, pelo qual o cirurgião brasileiro Euryclides Zerbini e sua equipe realizaram o primeiro transplante cardíaco da América Latina e no mesmo ano, foi instalado em Goiânia o Instituto de Patologia Tropical da Universidade Federal de Goiás.
Tais assuntos e seus respectivos detalhes serão abordados de forma clara e objetiva nesta edição especial. E, para isso, contamos com as competências de nossos redatores Caio Porto, Gabriela Sciulli, Patrícia Torricilia, Priscilla Landriscina e Tatiana Sasaya.
Esperamos, portanto que nossos caros leitores apreciem a leitura.


Patricia Torricilia

O ano que não acabou

“Havia um ar estranho: a revolução inesperada arrastara o adversário, tudo era permitido, a felicidade coletiva era desenfreada.”Antonio Negri

1968 foi o ano mais enigmático e louco no século XX. Ninguém o pôde prevenir e foram pouquíssimos os quais participaram dele que entenderam o seu desfecho. Deu-se uma espécie de furacão humano, generalizando todas as insatisfações juvenis, que arrasou o mundo em todas as possíveis direções. Seu único antepassado foi o ano de 1848 quando uma maré revolucionária – “A Primavera dos Povos” -, iniciada em Paris, espalhou-se por praticamente todas as capitais e grandes cidades da Europa, chegando até Recife no Brasil.
Tamanha foi à complexidade dos acontecimentos de tal ano, que até mesmo o filósofo Jean-Paul Sartre, o qual vivenciou 1968, confessou que mesmo pensando constantemente no assunto, não conseguira entender o propósito de tal revolução.
Essa extrema dificuldade de interpretar os acontecimentos daquele ano não se deve apenas à multiplicidade do movimento, mas sim da ambigüidade do seu resultado final. O mix de festa e revolta juntamente com os combates de rua entre estudantes, operários e militares, fez com que alguns como C. Castoriaditis, o visse como “uma revolta comunitária” enquanto que para Gilles Lipoyetsky e outros era “a reivindicação de um novo individualismo”.
Acabou tornando-se um ano mítico, pois foi o ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, as quais afetaram as sociedades da época de maneira irreversível. Foi também o marco para a iniciação dos movimentos ecologistas, feministas, das organizações não governamentais (ONGS) e dos defensores das minorias e dos direitos humanos. Porém, apesar disso, também teve efeitos contrários, como por exemplo, levar várias pessoas à frustração total com a humanidade, uma vez que a não realização dos sonhos fez com que parte da juventude militante, ao não alcançar seus objetivos, fossem se refugiar no consumo de drogas ou na violência da guerrilha ou do terrorismo urbano.
Podemos dizer também que foi uma reação extremada da juventude, às repressões de mais de vinte anos de Guerra Fria, uma rejeição aos processos de manipulação da opinião pública por meio das mídias que atuavam como “aparelhos ideológicos” incutindo os valores do capitalismo e, simultaneamente, um repúdio “ao socialismo real”, ao marxismo oficial e ortodoxo, imposto no leste Europeu, e entre os PCs europeus ocidentais, vistos como ultrapassados.
É possível até assemelhar-se esse ano a um caleidoscópio, no qual para qualquer lado em que se girasse, novas formas e novas expressões surgiriam. Foi uma espécie de fissão nuclear espontânea que abalou as instituições e regimes. Uma revolução que não se socorreu de tiros e nem bombas, mas de pichação, das pedradas, das reuniões em massa, do auto-falante e de muita irreverência. Tudo o que parecia sólido desmanchou-se no ar.


Patrícia Torricilia

Quentinhas de 68

Em fevereiro, cansados da fama, os Beatles, cercados de amigos, buscam paz de espírito no Ganges, Índia, com o guru Maharishi Mahesh Yogi.

Em 17 de abril, o governo militar brasileiro decreta o fim de eleições diretas para prefeito em 68 cidades de "segurança nacional", inclusive as capitais estaduais.

No dia 4 de abril, o líder da campanha pacífica dos direitos civis nos EUA, Martin Luther King, é morto a tiros na sacada de seu quarto, no segundo andar do Motel Lorraine em Memphis, Tennessee. A morte de Luther King enfurece os negros do país, desencadeando uma onda de conflitos em várias cidades.

Em 15 de abril, a esperança ilumina o rosto das pessoas, é a Primavera em Praga. Os estudantes comemoram as medidas moderadas do líder do Partido Comunista, Alexander Dubcek, que acredita ser possível conciliar o marxismo com a liberdade pessoal. Os tchecos tentam reescrever a história.

Em abril, no Teatro Biltmore, em Nova York, estréia "Hair", o primeiro grande musical de rock, dando voz à era dos hippies nos palcos da Broadway em um tributo à paz e ao amor livre.

Jacqueline Kennedy casa-se, em 20 de outubro, na ilha de Skorpios, com Aristóteles Onassis, magnata dono de uma frota de petroleiro.

O estudante José Guimarães morre, em 4 de outubro, em confronto entre alunos da Faculdade de Filosofia da Usp e alunos da Universidade Mackenzie, no centro de São Paulo.


Em 22 de novembro, o governo brasileiro cria o Conselho Superior de Censura.

O ministro da Justiça do Brasil, Luís Antônio da Gama e Silva, anuncia, em 13 de dezembro, em cadeia nacional de rádio e televisão, a edição do Ato Institucional nº 5 e do Ato Complementar nº 38, que decreta o recesso do Congresso Nacional. Agora, o governo passa a ter poderes absolutos sobre a nação. Com o recesso, o Executivo fica autorizado a legislar, suspender os direitos políticos de qualquer cidadão e cassar mandatos parlamentares.


Em 6 de novembro, Richard Milhous Nixon é eleito presidente dos EUA.

Nesse ano, a atriz Jane Fonda é "Barbarella", a heroína espacial de Roger Vadim.

Acontece também a primeira exposição individual em museus europeus do artista pop Andy Warhol, no Moderna Museet, em Estocolmo, na Suécia.

Caetano lança o LP "Tropicália" ou "Pane et Circenses" e, no mesmo ano, se apresenta com os Mutantes no Tuca, em São Paulo, com a música "É Proibido Proibir", sob vaias e tomates lançados ao palco. O uso de guitarras elétricas não agrada ao público.


Patrícia Torricilia

Princiais acontecimentos dos 60

1961: Realiza-se, em São Paulo, a 4ª Bienal. Neste ano, ocorre a dinamização do Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE e o Movimento de Cultura Popular do Recife. Dois pólos importantes na cultura nacional

1962: O filme "O Pagador de Promessa" ganha a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes

1963: É publicado o livro "A Mística Feminina", de Betty Friedan. O livro causou polêmica no mundo inteiro e é considerado um marco do movimento feminista. O cineasta Nélson Pereira dos Santos lança o filme "Vidas Secas" baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos.

09.fev.1964: Morre o compositor e radialista Ary Barroso.

10.jul.1964: Glauber Rocha lança "Deus e o Diabo na Terra do Sol", marco do cinema novo.

dez.1964: Estréia, no Rio de Janeiro, o "Show Opinião", com Zé Keti, Nara Leão, Maria Bethânia e João do Vale interpretando os texto de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes.

13.mar.1965: Intelectuais brasileiros lançam um manifesto à nação, exigindo o restabelecimento das liberdades democráticas e dos direitos individuais.

20.ago.1965: É lançado, na Inglaterra, o primeiro compacto dos Rolling Stones, com o sucesso "Satisfaction".

1965: A estilista inglesa Mary Quant, dona da loja Bazaar, lança a minissaia. O 1º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, é vencido pela música "Arrastão", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, interpretada por Elis Regina. Neste ano, o teatro brasileiro sofre a censura das peças "O Berço do Herói", de Dias Gomes; "Brasil Pede Passagem", show com texto de Castro Alves e Sérgio Porto; "Berço Esplêncido", de Sérgio Porto. O cineasta Luís Sérgio Person lança o filme "Brasil S.A."

1966: William Masters e Virginia Johnson lançam a "A Respota Sexual Humana", baseado em anos de pesquisa sobre o comportamento sexual norte-americano, no qual desmistificam vários conceitos sobre a sexualidade. Roberto Carlos torna-se o rei do "iê-iê-iê" e faz sucesso, junto de Erasmo Carlos e Wanderléia. É o começo da Jovem Guarda.

1967: Os Beatles lançam o LP "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band", revolução na música pop. Sua capa é a mais copiada da história da música. Acontece, nos


EUA, o Monterey Pop Festival. No Brasil, ocorre a
terceira edição do Festival de Música Popular da TV Record tem como vencedora a música "Ponteio", de Edu Lobo e Capinam. Em Segundo lugar fica "Domingo no Parque", de Gilberto Gil e, em terceiro, "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda. Caetano Veloso fica com o quarto lugar, com "Alegria, Alegria" e, juntamente com Gilberto Gil, lança o movimento tropicalista.

9.jan.1968: Frank Zappa lança o álbum "We're Only in It for the Money" (Nós Estamos Nessa Apenas Pelo Dinheiro), no qual faz uma paródia da capa do "Sgt. Pepper´s", dos Beatles, e uma crítica ao movimento hippie e seus ícones.

mai.1968: Estudantes franceses se mobilizam contra a reforma universitária feita por De Gaulle, que tentava transformar a universidade numa máquina de produzir "quadros integrados" ao sistema. Por trás das barricadas a juventude francesa trazia consigo de uma nova moralidade e uma outra cultura, como apontou o filósofo Hebert Marcuse.

1968: Em São Paulo, o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) depreda o teatro que apresentava a peça "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda, dirigida por José Celso Martinez Côrrea, e espanca os atores. Glauber Rocha lança o filme "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro".

Out.1968: No Rio, Geraldo Vandré apresenta, no 3º Festival Internacional da Canção, a música "Para Não Dizer que Não Falei nas Flores", considerada subversiva pelo coronel Otávio Costa, que exige a prisão do compositor. Morre Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

14.jun.1969: Morre a atriz Cacilda Becker.

15 a 19.ago.1969: 400 mil pessoas experimentam, durante três dias, o sonho de paz e amor preconizado pelo movimento hippie, durante o festival de Woodstock. Janis Joplin, Jimi Hendrix, Santana e The Who foram alguns dos protagonistas desses três dias de utopia, na pequena cidade de Bethel, Estado de Nova York (EUA). No mesmo ano, essa crença num mundo de paz e amor viria abaixo no festival de Altamont (próximo a San Francisco, nos EUA), no qual a apresentação dos Rolling Stones ocorre sob um clima de extrema violência. 4 pessoas morreram neste festival.

1969: Um grupo de pesquisadores e professores universitários, alguns deles proibidos de lecionar nas universidades, funda, em São Paulo, o Centro Brasileiro de Análise de Pesquisas (Cebrap), órgão independente dedicado ao estudo da sociedade brasileira.


Priscilla Landriscina

História da Economia

1960:
-A inflação acumulada de 1959 foi de 35,9%.
-O Congresso Nacional aprova a lei que cria a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), órgão com sede em Recife. Celso Furtado é nomeado seu superintendente.

18.fev.1960: O Tratado de Montevidéu cria a Associação Latino Americana de Livre Comércio (Alalc). O tratado vigora até 1981.

10 a 14.dez.1960: É criada a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A organização reúne Arábia Saudita, Argélia, Emirados Árabes, Indonésia, Irã, Iraque, Kuait, Líbia, Nigéria, Qatar e Venezuela.

1961: A inflação acumulada de 1960 foi de 25,4%.

31.jan.1961: Sebastião Paes de Almeida deixa o cargo de ministro da Fazenda e Clemente Mariani Bittencourt assume o cargo.

07.fev.1961: É fundada a companhia aérea TAM (Táxi Aéreo Marília).

18.mai.1961: Novo acordo "stand-by" com o FMI (Fundo Monetário Internacional) no valor de US$ 200 milhões, dos quais são utilizados 80 milhões.

ago.1961: Após a renúncia de Jânio Quadros, o acordo com o Fundo é rompido. Previa uma linha de crédito de US$ 2,1 bilhões. A garantia dada para o empréstimo era a produção de ouro do biênio 1961-62.

07.set.1961: Clemente Mariani Bittencourt deixa o cargo de ministro da Fazenda. No dia seguinte, em seu lugar, assume Walter Moreira Salles.









1962:
- A inflação acumulada de 1961 foi de 34,7%.


- Maria da Conceição Tavares publica "Da Substituição das Importações ao Capitalismo

Financeiro", obra que teve 12 edições no Brasil e duas no México.
- A Comunidade Econômica Européia assina as primeiras regras de política agrícola comum, que é a pedra angular da integração dos países europeus.

13.jul.1962: Francisco de Paula Brochado da Rocha assume o Ministério da Fazenda. dias depois ele deixaria o cargo.

03.ago.1962: Miguel Calmon Du Pin A. Sobinho assume o Ministério da Fazenda.

14.set.1962: Walter Moreira Salles deixa o cargo de ministro da Fazenda.











1963:
-A inflação acumulada de 1962 foi de 50,1%.
- Maria da Conceição Tavares publica seu primeiro livro: "Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil".

22.jan.1963: Miguel Calmon Du Pin A. Sobinho deixa o cargo de ministro da Fazenda, em seu lugar assume Francisco Clementino de San Tiago Dantas.

21.jun.1963: Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto assume o Ministério da Fazenda.

19.dez.1963: Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Ney Neves Galvão.

1964: A inflação acumulada de 1963 foi de 78,4%.

03.abr.1964: Ney Neves Galvão deixa o cargo de ministro da Fazenda.

15.abr.1964: Octavio Gouvêa Bulhões assume o Ministério da Fazenda.

mai.1964: Roberto Campos assume o Ministério Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Econômica no governo do general Castello Branco.

16.jul.1964: Criada a lei nº 4.357 que autoriza o governo a emitir ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional). A ORTN passaria a ter correção mensal a partir de 1965 e trimestral a partir de 1973.

02.dez.1964: Lei estabelece o fim do centavo de Cruzeiro.

31.dez.1964: É criado o Banco Central do Brasil, que substitui a Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito). O primeiro presidente do BC é o economista Denio Chagas Nogueira, que assume abril de 1965.

1965: A inflação acumulada de 1964 foi 89,9%.

13.jan.1965: Governo militar inicia reestruturação da economia e obtém empréstimo de US$ 125 milhões do FMI. O ministro Roberto Campos, titular da Fazenda à época, oferece, em troca, reforma fiscal, maior controle das contas públicas, reajuste de tarifas públicas e uma nova política salarial

set.1965: A convite da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris, Celso Furtado assume a cátedra de professor de Desenvolvimento Econômico. É o primeiro estrangeiro nomeado para uma universidade francesa, por decreto presidencial do general Gaulle. Permanecerá nos quadros da Sorbonne por vinte anos.









1966: A Inflação acumulada do ano 1965 foi de 34,24%.
13.set.1966: É criado o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

1967: A Inflação acumulada do ano de1966 foi de 39,12% Celso Furtado publica "Teoria Política do Desenvolvimento Econômico", obra em que considera reunido o essencial de seu pensamento sobre o tema. O empresário norte-americano Daniel K. Ludwig, um dos homens mais ricos do mundo na ocasião, compra 1,2 milhão de hectares na divisa do Estado do Pará e do então Território do Amapá, onde funda o Projeto Jarí.

13.fev.1967: Entra em circulação o Cruzeiro Novo (NCr$), moeda transitória que equivale a mil Cruzeiros antigos. Volta o centavo.

13.mar.1967: Octavio Gouvêa Bulhões deixa o cargo de ministro da Fazenda, em seu lugar assume Antônio Delfim Netto.

1968:
-A Inflação acumulada do ano de 1967 foi de 25,01%.
- Com a eliminação dos direitos alfandegários, começa a vigorar a tarifa exterior comum na Comunidade Econômica Européia.

20.abr.1968: É lançada, no Brasil, a caderneta de poupança com juros 6% ao ano mais correção monetária.

1969:
-A Inflação acumulada do ano de 1968 foi de 25,49%.
- Com a eliminação dos direitos alfandegários, começa a vigorar a tarifa exterior comum na Comunidade Econômica Européia.
- É fundada a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) A Casa da Moeda passa a fabricar o papel-moeda em circulação no país. Até essa data, as notas eram fabricadas na Inglaterra e nos Estados Unidos.

29.out.1969: Nasce a internet com a primeira transmissão de uma mensagem entre dois computadores. O professor Leonard Kleinrock supervisiona o envio da mensagem de um computador da Universidade da Califórnia (EUA) para o do Instituto de Pesquisa de Stanford (EUA). O sistema cai e a mensagem não é transmitida na íntegra.



Priscilla Landriscina

Boris Fausto abre o jogo e conta detalhes de 68


Again 6th8 - O que significou o ano de 1968?

Bóris Fausto - Este foi um ano muito especial no mundo inteiro. Houve um grande movimento popular na França, pela mudança não só das instituições, como também dos costumes políticos. Um dos lemas falava da imaginação no poder. No mesmo ano, e em outro contexto, aconteceram nos Estados Unidos os grandes festivais hippies de música, como Woodstock. Se não mudou o mundo, 1968 pelo menos o sacudiu, em todos os planos, da política e também da cultura, vista como uma expressão mais ampla. Isso se refletiu no Brasil, em vários níveis, em uma explosão na cultura que pode ser resumida na frase de uma música de Caetano Veloso: “É proibido proibir”.


Again 6th8 - E no plano político?

Bóris Fausto - Do ponto de vista político, o ano de 68 foi caracterizado por uma mobilização que se explica em grande medida por aquilo que já vinha ocorrendo: passado o primeiro momento do movimento militar de 64, as oposições foram se reerguendo. Isso redundou numa série de movimentos de classe média, como a famosa passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, em defesa da democratização, após a morte do estudante Edson Luiz. Houve também a retomada do movimento operário, com diferentes direções, em geral exemplificada em dois movimentos: um em Contagem, Minas Gerais, era reivindicatório e não propriamente agressivo; outro em Osasco, São Paulo, influenciado por formas de luta que lembravam a luta armada.


Again 6th8 - O que representou o Ato Institucional número 5?

Bóris Fausto - Uma verdadeira revolução dentro da revolução, ou, se quiserem, uma contra-revolução dentro da contra-revolução. Em dezembro de 1968, a edição do AI-5 restabeleceu uma série de medidas excepcionais suspensas pela Constituição de 67. Voltaram as cassações e o fechamento político e todo esse fechamento não tinha prazo, quer dizer, o AI-5 veio para ficar. Há quem diga que o AI-5 foi uma espécie de resposta ao início da luta armada, mas em 68 as ações armadas eram poucas. Ao que parece, o fator desencadeante pode ter sido a mobilização geral da sociedade brasileira em 1968 e a convicção ideológica de que qualquer abertura redundava em desordem. Então, era preciso endurecer, fechar, recorrer a poderes excepcionais para combater a subversão. Isso é o que explica o AI-5.


Again 6th8 - O que estava por trás da luta armada?

Bóris Fausto - A idéia de que seria impossível derrotar a ditadura por métodos pacíficos. A partir de 1968 começaram a surgir algumas ações, mas o auge foi depois do AI-5, nos anos de 69 e 70. O AI-5 fortaleceu a idéia de que os militares não se dispunham a abandonar o poder, e ficou claro que haveria cada vez menos brechas para a oposição. Essa idéia foi influenciada na época pelo êxito da Revolução Cubana, um movimento espantoso: um pequeno grupo guerrilheiro que se estabeleceu em Sierra Maestra, foi se estendendo e acabou, nas barbas dos Estados Unidos, por derrubar o regime de Batista.


Again 6th8 - Quais foram as principais organizações de luta armada?

Bóris Fausto - Uma delas era a Aliança de Libertação Nacional (ALN), cuja figura principal foi Carlos Marighella, morto pela repressão. A ALN resultou de uma cisão do Partido Comunista; foi formada em fins da década de 60, por grupos do PC, pois este rejeitava a luta armada. Houve também o MR-8, a Vanguarda Popular Revolucionária (a VPR do capitão Lamarca, que rompeu com o Exército) - essas foram as principais organizações da luta armada.


Again 6th8 - De que modo o governo militar reagiu?

Bóris Fausto - A luta armada fez sua aparição realmente espetacular a partir do seqüestro do embaixador americano Elbrick, no Rio de Janeiro (narrado no livro de Fernando Gabeira, O que é isso, companheiro?). Setores oposicionistas tiveram a impressão de que os grupos de luta armada iriam desestabilizar a ditadura, mas na verdade o regime militar desencadeou uma repressão violenta, feroz, atingindo até setores da sociedade que não integravam esses grupos.

Again 6th8 - A tortura foi um instrumento político da ditadura?

Bóris Fausto - Somente em 1968 a tortura se tornou sistemática em todo o país, como instrumento político. Antes disso, ela era utilizada em algumas situações, com diferenças geográficas. Em São Paulo, por exemplo, não havia tortura em 1964, mas no Nordeste, sim. Gregório Bezerra, líder comunista conhecido em Pernambuco, foi amarrado e arrastado por cavalos pelas ruas do Recife; coisas horríveis desse tipo!Em 68 se instalou a repressão sistemática. Foram criadas organizações – como a Operação Bandeirantes, em São Paulo – que usavam todo tipo de violência para quebrar a oposição, principalmente a ligada à luta armada. Começaram a surgir em maior número pessoas violentadas, sacrificadas, mortas. O regime militar apresentou sua face mais obscura.


Again 6th8 - O que o regime ganhou, torturando pessoas?

Bóris Fausto - Do ponto de vista dos militares, a tortura representou um instrumento poderoso para desbaratar os grupos de luta armada, que até nem teriam muita possibilidade de avançar depois de um primeiro grande impacto, mas foram mais rapidamente quebrados com a tortura, com as pessoas sendo forçadas a se delatar umas às outras. Isso acabou tornando a luta armada um rápido e trágico episódio histórico, um equívoco de enormes proporções, por mais que a gente respeite as pessoas que se sacrificaram nessa luta.


Again 6th8 - Em qual governo militar a repressão foi mais violenta?

Bóris Fausto - Quando Costa e Silva ficou doente, foi afastado do poder. Marinha, Aeronáutica e Exército elegeram, a portas fechadas, um típico representante da linha dura, o general Emílio Garrastazu Médici, do Rio Grande do Sul. O nome de Médici está associado à face mais negra da repressão, nada na história brasileira se compara a esse período, nesse sentido. Ele se beneficiou de um momento econômico extremamente favorável, quando o país cresceu a taxas extraordinárias e houve uma espécie de melhoria nas condições de vida da população. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que estabelecia uma repressão muito violenta, atacando os setores politizados e articulados da sociedade, para o resto da população o regime de Médici era associado à prosperidade, aos tempos do “milagre econômico”.


Patrícia Torricilia

Governo Costa e Silva

"Costa e Silva era um homem inteligentíssimo, de um QI altíssimo. Sempre foi o primeiro da turma e surrou Castelo em todos os cursos que fizeram juntos".

Coronel Hernani D'Aguiar



O grupo Castelista não conseguiu eleger um sucessor. O General linha-dura Arthur da Costa e Silva foi eleito Presidente. Para vice Pedro Aleixo, um civil udenista mineiro. Ambos foram empossados em Março de 67.
Costa e Silva havia sido Ministro da Guerra de Castelo Branco. Fizera uma carreira militar sólida, fora treinado nos EUA, chegou até a comandar o IV Exército nos tensos anos de 61 e 62.
Descontentes com a política Castelista de aproximação com os EUA e de facilidades concedidas aos capitalistas estrangeiros, a linha-dura e os nacionalistas autoritários das Forças Armadas concentravam suas esperanças em Costa e Silva. Devemos ressaltar que não havia muitas divergências entre os linha-duras e os nacionalistas, cogitava-se até a junção dessas duas orientações.
Costa e Silva cortou o grupo de Castelo Branco já na escolha dos ministérios, não deixando permanecer um só nome da gestão anterior.
A maioria dos ministros escolhidos eram de militares, apenas os Ministérios da Fazenda e do Planejamento foram entregues a civis. O primeiro a Delfim Neto, que havia sido Secretário da Fazenda de São Paulo, e o segundo para Hélio Beltrão.
Ao contrário do que se imaginava, Costa e Silva não foi um modelo de General Linha-dura no poder. "Levando em conta as pressões existentes na sociedade, estabeleceu pontes com a oposição moderada e tratou de ouvir os discordantes." Ao mesmo tempo, Costa e Silva incentivava as organizações sindicais e o surgimento de uma liderança em que se pudesse confiar dentro dos próprios sindicatos.
Essa liberdade restrita, porém é abalada por uma onda de protestos que s espalha por todo o país logo no início de seu governo. A radicalização da oposição é diretamente proporcional ao aumento do autoritarismo e da repressão.


Dentre as realizações desse governo podemos citar:
1. Criação do FUNAI - Fundo Nacional do Índio.
2. Criação do Mobral - Movimento Brasileiro de Alfabetização - Extinto em 1981.
3. Transformação de 68 municípios em áreas de segurança nacional (incluindo as principais capitais). Seus prefeitos passaram a ser nomeados pelo Presidente.
4. Ampliação de empresas estatais (Petrobrás / Vale do Rio Doce) com o capital estrangeiro.
5. Investimento em grandes projetos (Hidrelétricas de Volta Redonda e de Ilha Solteira).
6. Extinção da Frente Ampla.
7. Instituição do AI-5.

Patrícia Torricilia